Política
Lula na Esplanada seria o ‘bolsa habeas corpus’
10.8.15
O segredo para quem deseja acompanhar o noticiário político é manter
sempre à mão, como um comprimido de Isordil, uma dose de ceticismo. Ninguém
está livre do risco de sofrer um infarto. Ou de sentir as dores da decepção de
descobrir que apoiou o Lula sem saber que estava apoiando os afilhados de
Fernando Collor na Petrobras e os negócios do consultor José Dirceu. Um cético
jamais se deixará surpreender pelo absurdo. Como a notícia de que o petismo
deseja fazer de Lula um ministro de Dilma.
Alega-se que, em tempos de guerra contra o impeachment, Lula na
Esplanada seria a garantia de que não faltará comando à infantaria do governo.
Lorota. Além de realçar o raquitismo político de Dilma, o argumento ofende a
inteligência do brasileiro. Ninguém ignora que Lula já é o poder de fato em
Brasília. Em verdade, deseja-se retirá-lo do raio de ação do doutor Sérgio
Moro. Ministro, Lula passaria a dispor de foro privilegiado. E o juiz da Lava
Jato não poderia mandar prendê-lo.
A esse ponto chegou o PT: sitiado por delatores, o partido vive a
neurose do que está por vir. E teme que seu grande líder, estalando de
autoridade moral, vá fazer companhia atrás das grades ao “dinheirista” José
Dirceu e ao “pixuleco” João Vaccari Neto. Deve-se o pânico às interrogações que
boiam na atmosfera. Que revelações fará Renato Duque em sua delação? Marcelo
Odebrecht abrirá o bico? O silêncio de Leo ‘OAS’ Pinheiro resistirá à primeira
sentença condenatória?
No final de fevereiro, Lula estrelou um ato “em defesa da Petrobras”, no
Rio de Janeiro. Ao discursar, insinuou que a estatal petroleira virou escândalo
pelas mãos de uma “elite que não se conforma com a ascensão dos mais pobres.”
Pintou-se para o confronto: “Eu quero paz e democracia, mas se eles querem
guerra, eu sei lutar também.''
Nesse dia, Lula prometera cruzar o país em defesa da Petrobras. Mas não
tem viajado. O programa de milhagem da Air Odebrecht micou. Ele aconselhara
Dilma a “levantar a cabeça”. Chegara mesmo a apresentar-se como exemplo: “Sou
filho de uma mulher analfabeta, de um pai analfabeto. E o mais importante
legado que minha mãe deixou foi o direito de eu andar de cabeça erguida. E
ninguém vai fazer eu baixar a cabeça neste país. Honestidade não é mérito, é obrigação.”
É sempre reconfortante saber que Lula, avalista das nomeações dos petrogatunosque pilharam a Petrobras, continua sendo a
pessoa mais honesta que ele conhece. Nessa condição, não precisa se esconder do
juiz Moro numa trincheira ministerial. Sua nomeação para o ministério
corresponderia ao lançamento de um prorama novo: o ‘Bolsa Habeas Corpus’. Coisa
nunca antes vista na história desse país. Seria quase tão humilhante quanto o
xilindró.
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