MACHISMO DE ESQUERDA: Carta Capital mostra que a esquerda também sabe ser machista’

CECÍLIA LOPES*

Texto publicado em 22/11/2019

Na última semana, uma situação chocante ultrajou todos aqueles que respeitam minimamente os direitos das mulheres: a revista Carta Capital publicou uma matéria – assinada por Nirlando Beirão, redator chefe do periódico – ofendendo de maneira baixa e infantil figuras políticas femininas que não seguem a cartilha da esquerda.

Não foi uma crítica banal. O autor julgou o corpo da ministra Damares Alves, chamou Carmen Lúcia de “feia” e “bruxa”, a juíza Carolina Lebbos de “ressentida, chatinha e travadona”, dentre outras ofensas de baixo calão. Nem as deputadas Janaína Paschoal e Joice Hasselmann – recente alvo da militância bolsonarista – foram poupadas.

Sob o título de “Mulheres que Envergonham Mulheres”, a matéria vexa apenas o próprio autor – e não foge ao padrão da revista, que nas eleições de 2018 fez insinuações homofóbicas contra Henrique Meirelles, então candidato à presidência.

Seja nos tweets preconceituosos do ator José de Abreu ou nos comentários racistas disparados por Ciro Gomes contra o vereador Fernando Holiday, já ficou claro o modus operandi dos veículos e figuras da esquerda brasileira: respeito para as minorias ideologicamente alinhadas, escárnio contra aquelas que ousam discordar.

“Já ficou claro o modus operandi dos veículos e figuras da esquerda brasileira: respeito para as minorias ideologicamente alinhadas, escárnio contra aquelas que ousam discordar.”

Esse recente episódio só reflete o que os liberais dizem há muito tempo – a esquerda também sabe ser machista. E é muito pior que a centro-direita, que não raro reproduz um discurso sem muitos enfeites identitários por desconhecer os alicerces individualistas de muitas dessas pautas.

Pouca gente ouviu falar Mary Wollstonecraft, primeira feminista do mundo, liberal, girondina e ferrenha defensora da propriedade privada. Mas um comunista médio conhece Simone de Beauvoir – quanto mais o redator da mais célebre revista de esquerda do país.

Felizmente, é preciso reconhecer que muita gente ideologicamente alinhada com a Carta Capital demonstrou indignação com a matéria e não chancelou as ofensas absurdas endereçadas às suas rivais políticas. Mas isso não muda os fatos: a matéria foi escrita, revisada por jornalistas de esquerda e ainda assim publicada; até agora, nenhuma retratação foi feita. Para provar que essa posição é minoritária na militância, os assinantes precisam, no mínimo, confiar seu dinheiro a uma publicação mais respeitável a ponto dessa fechar as portas. Em momentos de extrema polarização do debate político, precisamos mostrar que respeito às mulheres é mais que mero discurso e – principalmente – pauta inegociável. #Opinião

*Cecília Lopes é fundadora do LOLA Brasil – Ladies of Liberty Alliance

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